Tribunal de Justiça Desportiva
do Futebol do Estado do Rio de Janeiro

Notícias

Home » Notícias » Suspenso presidente do Americano em 90 dias por acusações de manipulação de resultado

Suspenso presidente do Americano em 90 dias por acusações de manipulação de resultado

Carlos Abreu não provou as declarações feitas à imprensa e foi punido por Comissão; pela atitude do dirigente, clube acabou multado

08/05/2019

Suspenso presidente do Americano em 90 dias por acusações de manipulação de resultado

O presidente Carlos Abreu acusou a arbitragem da partida entre Boavista e Americano de manipular o resultado para beneficiar o Madureira, que à época lutava contra o rebaixamento. Um inquérito foi instaurado para apurar as denúncias, mas nada ficou comprovado e o dirigente acabou suspenso em 90 dias pela Terceira Comissão Disciplinar. A atitude do mandatário afetou também o clube, que foi multado em R$ 10 mil. A sessão aconteceu nesta quarta-feira (8).

ACUSAÇÕES DO PRESIDENTE

No dia 17 de março, o Americano perdeu por 1 a 0 para o Boavista, na quarta rodada da Taça Rio. Logo após, em entrevista, o presidente do clube de Campos fez acusações envolvendo árbitros, atletas, dirigentes e FERJ, segundo a denúncia, que colocaram em dúvida a lisura do Carioca. O dirigente afirmou que o árbitro Rafael Martins de Sá pediu que a comunicação entre o trio de arbitragem fosse desligada.

– Um integrante da comissão de arbitragem, que eu prefiro não falar o nome para não prejudicá-lo, me falou assim: “não tem jeito, você sabe o que vai acontecer aqui hoje”. Pela minha índole, eu não posso ficar omisso. Espero que isso seja apurado. Isso foi no intervalo da partida. Eu solicitei que o delegado da partida apurasse isso. Ele apurou e, no segundo tempo, eles ligaram a comunicação. Não havia problema nenhum. Foi uma decisão do árbitro – reafirmou Carlos Abreu ao Globoesporte.com.

A vitória do Boavista, segundo o presidente, beneficiou o Madureira, assim como outras partidas. A equipe de Campos ainda teve o zagueiro Espinho expulso por agressão ao atacante Dija Baiano.

– O que eu posso dizer é o seguinte, os jogadores do Boavista, o treinador (Eduardo Àllax), eu falei com eles, estavam envergonhados. Foi a expressão que eles usaram. Envergonhados com o que aconteceu lá. Eu estive com o goleiro Rafael (atleta do Boavista) e eu falei exatamente essas palavras: “Vocês não mereciam ter uma vitória desse jeito. Vocês não precisavam de uma vitória assim. Eu saio daqui envergonhado” e ele falou: “Eu também estou”. O Àllax, o treinador, estava, depois do jogo, conversando com o Josué, eu cheguei para falar também, e demonstrar minha indignação, e ele estava constrangido com a situação. Eu não posso, não quero afirmar isso, mas as coincidências do campeonato, os supostos erros, são todos para o Madureira. É só pegar o jogo deles contra a Portuguesa. É bem difícil de aceitar. Eu estou no futebol há muito pouco tempo. O que eu posso dizer é que eu ouço de vários dirigentes, é que há clubes que são protegidos – lamentou Carlos Abreu, que completou.

– O que a gente sabe é a verdade demora a surgir e eventualmente eu vou ser punido. Mas lá na frente a casa vai cair. Isso eu tenho certeza. Eu não acredito que as pessoas que coordenam a Ferj façam isso. Mas dentro do futebol carioca há alguma coisa estranha. Isso eu não tenho dúvida. Talvez seja a hora de alguém procurar saber. Não sou pessoa de ouvir e ficar quieto se eu vejo alguma coisa errada. Mas não estou sendo irresponsável.

A FERJ se manifestou sobre o ocorrido através de uma nota oficial.

“Informada das declarações do presidente do Americano, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro está encaminhando o caso às autoridades competentes para que investigue, convoque todos os citados e puna com rigor os responsáveis por qualquer ilegalidade, inclusive as decorrentes de denunciação caluniosa, se couber. A FERJ refuta e entende como precipitadas, injustas e pouco responsáveis a generalização de suas afirmações.”

DENÚNCIA

Carlos Abreu foi denunciado nos termos dos artigos 221, “dar causa, por erro grosseiro ou sentimento pessoal, à instauração de inquérito ou processo na Justiça Desportiva”, 243-B, “constranger alguém, mediante violência, grave ameaça ou por qualquer outro meio, a não fazer o que a lei permite ou a fazer o que ela não manda”, 243-F § 1º, “ofender alguém em sua honra, por fato relacionado diretamente ao desporto; se a ação for praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, contra árbitros, assistentes ou demais membros de equipe de arbitragem, a pena mínima será de suspensão por quatro partidas”, e 258 do CBJD, “assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva”.

“O denunciado diz existir manipulação na arbitragem para prejudicar o Americano. A Procuradoria instaurou inquérito para apurar as acusações. Foram chamadas para prestar depoimento todas as pessoas citadas pelo dirigente. Em nosso entender, o Sr. Carlos Oliveira de Abreu deverá responder por suas declarações e seus atos, que geraram insatisfação futebolística ao difamar a imagem e a honra de profissionais gabaritados, maculando ainda a honra pessoal e familiar. Não pode e não deve um presidente de clube da primeira divisão do nosso futebol de profissionais, prestar declarações desse porte sem ter o mínimo de prova a produzir”, diz o procurador-geral do TJD-RJ, André Valentim, na denúncia.

DEFESA

O advogado Mauro Chidid tentou apresentar provas de vídeo, mas todas estavam sem áudio. O defensor também juntou aos autos depoimento do presidente da Associação de ex-árbitros falando sobre irregularidades na Comissão de Arbitragem da FERJ.

Presente no Tribunal, Carlos Abreu ratificou o que foi dito em entrevista e durante depoimento no inquérito. Perguntando sobre como teria tomado conhecimento de que os rádios da equipe de arbitragem estavam desligados, informou ter vindo de um membro da comissão técnica. Quanto à acusação do Madureira ser beneficiado, Carlos Abreu disse haver apenas indícios.

– Estou há dois anos no futebol, nesse tempo tudo que acontece tende a gente a concluir isso. Tenho indícios. O presidente do Madureira, em entrevistas, já falou mal do Carioca, de um ex-presidente da FERJ, e até hoje a Procuradoria nunca denunciou.

RESULTADO

O relator, Wagner Dantas, não vislumbrou ameaça ou ofensa, bem como não identificou o destinatário do insulto, e absolveu o presidente quanto aos artigos 243-B e 243-F, mas entendeu que Carlos Abreu incorreu nas demais imputações.

– Não se conseguiu produzir defesa em fase inquisitiva. Não conseguiu provar o que falou no inquérito. Teve uma segunda oportunidade, com as provas apresentadas neste julgamento, mas também não conseguiu trazer. O futebol do Rio de Janeiro não pode ser depreciado por declarações levianas. Ele não conseguiu trazer nenhuma prova daquilo que disse, pelo contrário, ratificou o depoimento do inquérito. O denunciado incorreu no artigo 221. Vejo hipótese também do artigo 258. Estamos falando de uma questão ética. Não posso dizer que existe uma coisa errada se eu não posso provar isso – votou o relator, aplicando 80 dias de suspensão pelo artigo 221 e 10 dias pelo 258, sendo acompanhado por todos os auditores.

AMERICANO

O clube também foi denunciado. A Procuradoria pediu a punição do Americano por o presidente ter obrigações institucionais a cumprir e não pode fazer declarações à imprensa sem apresentar provas cabíveis, sendo denunciado pelo artigo 258-D, que fala em “as penalidades de suspensão decorrentes das infrações previstas neste Capítulo poderão ser cumuladas com a aplicação de multa de até R$ 10 mil para a entidade de prática desportiva a que estiver vinculado o infrator”.

Assim, a Comissão multou o Americano em R$ 10 mil, pena máxima prevista no Código.

Elise Duque/Assessoria TJD-RJ

As informações de cunho jornalístico redigidas pela Assessoria de Imprensa do TJD-RJ não produzem efeito legal.