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Especialistas se reúnem para falar do crescimento do Futebol Feminino

Debates que reacenderam a necessidade de um novo olhar sobre a modalidade aconteceram no 1º Seminário Internacional de Desenvolvimento do Futebol Feminino

23/06/2017

Especialistas se reúnem para falar do crescimento do Futebol Feminino

Durante o 1º Seminário Internacional de Desenvolvimento do Futebol Feminino, que aconteceu nesta quinta-feira (22), no hotel Belmond Copacabana Palace, convidados e palestrantes puderam trocar informações, experiências e projetos que visam o crescimento da modalidade não só no Brasil, mas também de forma mundial.

Aspectos Econômicos e Sociais do Futebol Feminino nas Olimpíadas: Resultados e Prospecção

Abrindo os debates, a mesa tinha como palestrantes Ana Paula Macedo Terra, que é membro da ANDD e Gerente Jurídico do COB, e Adriana Behar, ex-jogadora de vôlei de praia e Gerente de Planejamento Esportivo do COB. Presidindo o bate-papo, Joana Prado, advogada especialista em Direito Desportivo e Secretária Geral do evento.

Adriana Behar destacou que nos países que estão nos lugares mais altos do ranking de medalhas olímpicas, a participação das mulheres é mais efetiva. Falou também da importância social que o futebol feminino tem.

– O esporte é uma grande oportunidade para traçar o caminho da inclusão social, do empoderamento feminino e uma ponte para transformar sonhos em realidade – disse Adriana Behar.

Influência Legislativa no Status do Futebol Feminino: Brasil/USA

Dando sequência, a Dra. Luciana Lopes começou o painel expondo os grandes feitos da maior jogadora de futebol feminino, Marta, e desafiando os convidados a dizerem quantas vezes já a viram jogar. A presidente do Seminário, advogada especialista em Direito Desportivo, diretora do IBDD, membro da ANDD e da SBDD e sócia-fundadora do escritório Lopes da Costa & Associados, teve a companhia do Dr. Gustavo Delbin, membro da ANDD e presidente do Conselho Fiscal do Comitê Paralímpico Brasileiro, que presidiu a mesa.

Luciana Lopes fez uma passagem, desde a época em que as mulheres eram proibidas de acompanhar os eventos esportivos, passando pelo período em que conseguiram ingressar nas modalidades esportivas – citando ícones femininos – até os dias atuais. A advogada ressaltou os movimentos que as entidades têm feito para o crescimento da modalidade. A FIFA priorizando o futebol feminino, a Conmebol tornando obrigatória a participação de equipes femininas em campeonatos nacionais para que as masculinas possam participar das competições sul-americanas e a CBF agindo da mesma forma, além de criar as Seleções de base e investindo em marketing e incentivando a criação de equipes compostas por mulheres.

– É importante que o futebol feminino não seja visto como evento social, mas como um esporte profissional. Se o talento é o mesmo, por que não o reconhecimento? O que falta são oportunidades – concluiu Luciana Lopes.

Marketing, Patrocínio e Recursos Públicos Disponíveis para o Futebol Feminino

Fechando as palestras da manhã, o presidente do TJD/RJ e membro da Comissão Organizadora, Marcelo Jucá, presidiu a mesa que falou sobre marketing, patrocínio e recursos públicos disponíveis para o futebol feminino.

– Todo mundo tem direito de ser profissional. O futebol feminino tem de ser tratado como profissional. As meninas treinam, se dedicam, trabalham como os meninos – disse Daniela Pacheco, sócia-diretora da Live Results – Europa.

Usando o Barcelona como exemplo de como expandir o futebol feminino, com investimento e apoio das grandes ligas, Daniela explicou a necessidade de olhar a modalidade como negócio.

– O futebol feminino é um grande negócio. Nós mulheres somos consumidoras. As mulheres consomem futebol. Precisamos de gestores que pensam como administradores. Se estamos formando atletas de alto nível, por que não investirmos na nossa própria casa? – questionou Daniela Pacheco.

Vinicius Cunha, que trabalha com as políticas de comunicação do BNDES, complementou o que foi dito por Daniela explicando o ciclo vicioso entre mídia, patrocínio e retorno.

– É preciso trazer a televisão e todo tipo de mídia para o esporte. A mídia só vai entrar se o produto for bom. O patrocinador ajudar a desenvolver o aspecto técnico da modalidade é o que atrair a grande mídia – afirmou o representante do BNDES.

Futebol Feminino Sob a Ótica do Direito do Trabalho: Desigualdades, Preconceitos, Obstáculos e Perspectivas

Já no segundo turno, o futebol feminino e o Direito do Trabalho foram debatidos pelos palestrantes Ana Paula Lockmann, Desembargadora do TRT/SP e membro da ANDD e Ricardo Miguel, Juiz do Trabalho do TRT/RJ e membro da ANDD, presididos por Maurício Corrêa da Veiga, Secretário Geral da ANDD.

Ana Paula Lockmann citou a Lei Pelé para mostrar que diante da legislação todos são iguais, homens e mulheres, e que isso deve ser respeitado em prática.

– A Lei Pelé fala em obrigatoriedades para modalidade de futebol, independentemente de ser mulher ou homem. Por isso, o futebol feminino precisa ser encarado sim como profissional, com todos os direitos do futebol profissional. A Lei não distingue o sexo.

Dentre as causas que impedem esse reconhecimento, estão a barreira da cultura machista, o pouco incentivo ao esporte feminino, estereótipos de gêneros, o tratamento como esporte amador e a menor cobertura da mídia.

Como perspectiva de mudança dessa realidade, Ana Paula Lockmann vê nos novos regulamentos de Licença de Clubes (CBF e Conmebol), para que a partir de 2019 seja obrigatório ter time feminino para disputa de competições destas entidades, uma oportunidade.

Ricardo Miguel palestrou sobre os aspectos constitucionais da igualdade de gênero no futebol feminino, comparando Brasil e EUA.

– Igualdade é possibilitar o mesmo acesso a direitos e oportunidades. Homens e mulheres não são iguais, mas devem ter os mesmos direitos e oportunidades.

A Constituição Americana não prevê igualdade entre homens e mulheres. A Suprema Corte considera a igualdade de gênero de média importância governamental, porém o futebol feminino nos EUA é forte. Os três países de maior igualdade de gênero (Islândia, Finlândia e Noruega) não dão a mesma importância à modalidade.

Nos Estados Unidos a formação mista é precoce, houve mudança cultural, o futebol feminino tem recordes de audiência e gera grande receita. Com isso, Ricardo Miguel afirma que não dá para dizer que o produto não vende. É questão única e exclusivamente cultural. O grande problema ainda está na diferença salarial, que é pautada por preconceito e falta de visibilidade.

O Crescimento Mundial do Futebol Feminino

No penúltimo painel do Seminário, presidido por Leonardo Andreotti (presidente do IBDD, membro da ANDD e Gerente Jurídico do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC)), Rosalia Ortega, Juíza de Apelação da Federação Internacional Pelota Vasca, reiterou o que foi dito por Vinicius Cunha, do BNDES, sobre o ciclo vicioso entre patrocinador e televisão. Destacou também a diferença entre o tratamento que é dado para o futebol masculino e feminino.

Pedro Malabia, diretor de La Liga Espanhola de Futebol Feminino, mostrou como funciona a organização da modalidade na Espanha, com grandes marcas comerciais, duas divisões nacionais e a responsabilidade de cada federação estadual. Exemplificando o crescimento do futebol feminino, as categorias de base nos clubes e o desenvolvimento das competições, que refletem até mesmo no clube.

La Liga Espanhola de Futebol Feminino dá visibilidade com site oficial, aplicativo de celular com seção específica e redes sociais, gerando um crescimento também digital.

Presente e Futuro do Futebol Feminino no Brasil: Projetos e Ações

Encerrando o dia de debates, o Consultor Jurídico do ME, Tamoio Athayde Marcondes, comandou o painel que teve a participação de Ana Lúcia Monteiro, Coordenadora de Projetos da ONU Mulheres, e Valesca Araújo, Gerente de Desenvolvimento do Futebol Feminino da CBF, para discutir o presente e futuro do futebol feminino no Brasil, projeto e ações.

Para alcançarmos a igualdade de gênero, precisamos trabalhar em rede, entre governos, setor privado e sociedade civil, ressaltou Ana Paula, que também viu no esporte uma forma de empoderamento feminino.

Já Valesca Araújo falou como a CBF está trabalhando para desenvolver o futebol feminino no Brasil. Ainda é preciso mudar a forma como é visto, o desinteresse geral por assuntos que envolvem a modalidade, a inexistência de patrocínio específico, o baixo desenvolvimento das Seleções de base e o médio da Seleção Principal.

Porém, a reformulação do Campeonato Brasileiro, a manutenção de três categorias das Seleções, a primeira mulher a treinar a Seleção Principal e os programas FIFA e Conmebol de incentivo são exemplos de como, aos poucos, a modalidade vem se desenvolvendo.

– O sonho da menina em jogar futebol não é menor que dos meninos. É igual. Mas elas sabem que poucas vão chegar lá. O caminho é muito mais árduo. Elas precisam de oportunidades. O futebol feminino hoje precisa de ação. Temos bons profissionais, boas ideias, falta fazer acontecer – encerrou Valesca.

Texto: Elise Duque/Assessoria TJD-RJ

Foto: Úrsula Nery/Agência FERJ